Este filme deu-me vontade de ter sexo e de me sentir confortável ao conhecer alguém.
É simples, e é nessa simplicidade que transmite tão bem a energia criativa que vem da intimidade total. O poder pouco falado de nos descobrirmos quando nos contamos a alguém que quer saber de nós, como se fôssemos o nosso próprio autor, o nosso próprio artista. Algo tão poderoso e tão fácil de esquecer nesta era de dates compulsivos, em que damos por nós a repetir uma história que, de repente, parece a de outra pessoa.
Ser um do outro, sermos só nossos durante um momento, e a amargura que vem depois: a sensação de que nada pode ser assim tão perfeito, que só pode ser um sonho. E, finalmente, a tragédia que é conhecermos a pessoa certa no momento errado.
Lançado em 2018, Duck Butter é um filme independente que acompanha Nima (Alia Shawkat) e Sergio (Laia Costa) duas artistas que se conhecem num bar. Insatisfeitas com a falta de profundidade que sentem nos encontros e nas relações — e também na sua carreira — fazem um pacto para passarem 24 horas juntas, na esperança de encontrar uma nova forma de criar intimidade.
Pelo que percebi, Duck Butter não é um filme adorado por toda a gente. Talvez por ser demasiado simples, ou, mais provavelmente, por prometer um romance lésbico e acabar por cair no cliché da piada sobre como lésbicas vão logo morar juntas depois do primeiro encontro.
Para piorar, o argumento foi escrito por um homem, Miguel Arteta, em coautoria com Alia Shawkat (que interpreta Nima). E, na verdade, descobri que o filme foi originalmente pensado para um casal heterossexual, com Sergio sendo um homem, mas, depois de dificuldades em encontrar o ator ideal para o papel, os criadores decidiram reescrever a história quando Laia Costa fez audição para o filme, pois sentiram que ela captava perfeitamente a alma da personagem que haviam criado.
Outro detalhe que pode ajudar a compreender melhor Duck Butter é que a maioria do diálogo foi improvisado, e o filme foi gravado em apenas 10 dias. O segundo ato, que mostra a maratona de 24 horas juntas, foi filmado praticamente em tempo real.
O que significa Duck Butter?
O título?
Beeeeeem, duck butter é uma gíria estrangeira para uma substância corporal produzida pela mistura de suor e secreções em zonas íntimas, de certeza que há uma palavra portuguesa para isso, mas estou feliz por não me ocorrer.
No contexto do filme, pode ser lido como uma metáfora para a crueza e intensidade da experiência de intimidade absoluta—física e emocional—que as protagonistas vivem ao longo das tais 24 horas. Eu gostei.
Eu gostei, e antes de concluir a minha review, sobra-me notar que este filme é-me belo e desconfortável porque mostra a realidade que é procurar intimidade real na ilusão dela.
O que falta dizer:
Atualmente, Duck Butter está disponível na Netflix.
E, o que não me sai da cabeça: precisamos de mais filmes lésbicos escritos por lésbicas, e mais visibilidade para os que já existem — além de que, precisamos de mais vozes a falar sobre essas histórias.
Se um filme já te fez sentir vista, se já te revoltaste com um final que não fez justiça a uma personagem queer, ou se queres simplesmente partilhar o que te marcou, escreve-nos sobre isso.
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