Nos últimos anos, a sociedade tem assistido a um crescente debate sobre os padrões de beleza e a forma como a imagem corporal é moldada pelos mídia.
Movimentos como body positivity e body neutrality surgiram como resposta a décadas de obsessão com a perfeição estética, questionando a necessidade de transformação e promovendo a aceitação de diferentes corpos. Contudo, a ascensão da utilização de Ozempic, o regresso de desfiles da Victoria’s Secret e a glorificação da magreza extrema nas redes sociais sugerem um retrocesso. A obsessão pela estética perfeita intensificou-se, alimentada por dietas radicais, cirurgias e padrões cada vez mais inalcançáveis. Em vez de exclusão descarada, a inclusão tornou-se uma ferramenta de marketing, mas, no fim, a pressão sobre os corpos permanece. O que mudou, de facto?
No texto a seguir, Alessandra Féria explora esse contexto, refletindo sobre como as representações midiáticas impactam nossa relação com o corpo e o que significa realmente viver de forma mais autêntica e saudável.
Quebrar rótulos e abraçar a body positivity
Nos últimos anos, a temática de como deveremos girar à volta da imagem do nosso próprio corpo tem andado de mãos dadas com a nossa saúde mental.
Houve um estudo liderado por Jake Linardon, da Universidade Deakin, na Austrália, publicado em outubro de 2021, que analisou como a aceitação dos nossos sentimentos em relação ao próprio corpo pode acontecer sem que sintamos necessidade de o alterar. Esta aceitação pode minimizar as raízes de vários distúrbios alimentares, perturbações mentais e não só. Estes achados reforçam a base de movimentos sociais como o body positivity e o body neutrality, com o intuito de quebrar o ciclo e aplaudir uma sociedade mais inclusiva.
Mas todo este movimento, embora esteja a ser cada vez mais popularizado e a ganhar cada vez mais voz, não é de todo algo recente. Na década de 60-70, para combater a opressão social e estigmas, nos Estados Unidos foi criada a organização NAAFA – National Association to Advance Fat Acceptance.
Porém, no final dos anos 90 e início dos anos 2000, parece que foi tudo pelo ralo abaixo e nós, desde pequenxs, fomos bombardeadxs pelos media, seja através das revistas mais populares, filmes, séries, reality shows e, queiramos ou não, acabaram por moldar a nossa percepção perante o bonito, o mais desejado e a realidade
Se, por um lado, começavam a surgir movimentos como o body positivity, por outro, o culto ao corpo perfeito era ainda alimentado intensamente pelos media.
O “como perder 5 kgs em 5 dias” e o mundo tóxico da diet culture tornaram-se parte do nosso quotidiano. Exemplos disso são figuras como Kate Moss, com o seu lema “Nothing tastes as good as skinny feels like”, ou celebridades como Lindsay Lohan e Nicole Richie, que alimentavam o ideal do corpo magro.
Não podemos esquecer também da controvérsia em torno dos filmes da Bridget Jones, em que a personagem principal, interpretada por Renée Zellweger, foi considerada indesejável por pesar cerca de 60 kg aos 30 anos. Ou, ainda, em Loiras à Força (White Chicks), onde a personagem Lisa, interpretada por Jennifer Carpenter, entra em paranóia devido à celulite, ao rabo “gigante” e à gordura na barriga — que, ao ser apertada, se via claramente que era apenas pele —, enfatizando a obsessão por corpos ultra-magros.
Quem manda na nossa perceção corporal?
Para além de body positivity, o conceito de body neutrality também tem ganhado mais voz. Quais são as diferenças?
Body positivity pode, por vezes, levar à interiorização da ideia de que precisamos, quase por obrigação, de nos adorar e sentir confortáveis com o nosso corpo de forma permanente. Por outro lado, body neutrality aceita os corpos independentemente de como são a nível estético, mas dá ênfase as capacidades e funções do corpo, oferecendo uma aceitação mais realista para viver em harmonia com ele.
Acredito que, hoje em dia, temos um leque mais variado no que diz respeito aos padrões de beleza. Algo que, na minha adolescência ou início da vida adulta, parecia impensável…
É importante que todxs nós comecemos a prestar mais atenção e carinho ao nosso corpo, sem nos preocuparmos com as imposições externas, oferecendo um exemplo mais saudável às gerações futuras.
A televisão ainda privilegia o corpo magro, mas ver figuras como as baddies Barbie Ferreira, Nicola Coughlan, Michelle Buteau e o novo look da Nelly Furtado é, sem dúvida, uma lufada de ar fresco.😌